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Vem
Vem, vem, sejas tu quem fores Não importa se és um infiel, um idólatra | Ou um adorador do fogo, Vem, a nossa irmandade não é um lugar de desespero, | Vem, mesmo tendo violado o teu juramento cem vezes, Mesmo assim, vem. |
~Rumi |
domingo, 4 de outubro de 2015
Cinco Quilómetros
Joãozinho era uma dessas pessoas que passa a vida a fugir das dificuldades.
Procurou sempre o caminho mais curto e cómodo. Ele era mestre em atalhos.
Nem sempre as suas soluções eram as melhores. Mas estavam sempre de acordo com os seus próprios interesses.
Sofrimento era uma palavra que pura e simplesmente não existia no dicionário do Joãozinho.
Tudo o que pudesse provocar algum tipo de desconforto era imediatamente colocado em segundo lugar. Coisas como: solidariedade, amor, desinteresse, humildade, perdão...
Até que um dia Joãozinho morreu.
Ao chegar ao Céu, encontrou São Pedro em frente a uma grande porta com uma grande Cruz de mais ou menos cinco metros.
Joãozinho saudou o Santo com a intimidade de um velho conhecido, tal como fazia com os amigos nos bares da vida quando queria pedir algum favor.
Depois, então, Joãozinho perguntou-lhe:
- Qual é o caminho mais curto para o Céu?
São Pedro respondeu:
- Sê bem-vindo, Joãozinho! A porta é por aqui. Entra!
O Joãozinho entrou e viu uma longa escada, bastante estreita e pedregosa. E perguntou imediatamente como fazia nos velhos tempos:
- Não há um caminho mais curto?
São Pedro respondeu com ternura e autoridade:
- Não, Joãozinho. O caminho é este. Todos os que entram para o Céu passam por aqui. E há mais. Deverás levar esta Cruz até lá. São apenas cinco quilómetros de caminhada.
O Joãozinho olhou para a Cruz e disse para os seus botões: "Já te digo como é...". Agradeceu e saiu com a sua Cruz em direcção ao Paraíso. Fez um quilómetro sem dificuldades. Foi então que viu um serrote esquecido no chão.
Olhou ao redor, não viu ninguém e, não resistindo à tentação, cortou um metro da Cruz.
Continuou o seu caminho, mas levou o serrote com ele. Mais um quilómetro... mais um metro cortado. Outro quilómetro ... cortou outro metro.
Quando faltavam apenas cem metros para chegar ao Céu só havia mais um metro da Cruz. E lá ia o Joãozinho a carregar a cruz sem dificuldade como sempre fez durante toda a sua vida. Foi então que aconteceu o inesperado. Para chegar ao Céu era necessário atravessar um precipício. A distância até à outra margem era de cinco metros.
O Joãozinho podia ver apenas um fogo intenso no fundo do precipício. Faltou-lhe a coragem... ele não seria capaz de saltar tão longe. Desanimado, sentou-se. Lembrou-se, então, da oração do Anjo da Guarda que aprendera com a sua avó.
Começou a rezar. O Anjo da Guarda apareceu e perguntou-lhe:
- Então, Joãozinho, do que estás à espera? A festa no Céu está uma maravilha! Não ouves a música e as danças? Porque é que estás aqui sentado?
O Joãozinho respondeu:
- Cheguei até aqui, mas tenho medo de saltar este precipício.
O Anjo, então, exclamou:
- Ora, Joãozinho, usa a ponte!
- Ponte? Qual ponte? - Perguntou o Joãozinho.
E o Anjo respondeu:
- Aquela que São Pedro te deu à entrada! Onde está a tua ponte, Joãozinho?
E, o Joãozinho, compreendendo o seu grande erro, respondeu com tristeza ao Anjo:
-Eu cortei-a!
fonte: PNL Brasil