Vem

Vem, vem, sejas tu quem fores
Não importa se és um infiel, um idólatra
Ou um adorador do fogo,
Vem, a nossa irmandade não é um lugar de desespero,
Vem, mesmo tendo violado o teu juramento cem vezes,
Mesmo assim, vem.

~Rumi


quinta-feira, 31 de março de 2011

Ressonância Schumann

Por Leonardo Boff (Teólogo e escritor)

Não apenas as pessoas mais idosas, mas também jovens fazem a experiência de que tudo está a acelerar excessivamente. Ontem foi Carnaval, dentro de pouco tempo será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou possui base real? Pela "ressonância Schumann" procura dar-se uma explicação.

O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera que fica a cerca de 100 km acima de nós, criando o que se chamou "cavidade Schumann". Nessa cavidade produz-se uma ressonância (daí chamar-se ressonância Schumann) mais ou menos constante na ordem das 7,83 pulsações por segundo(hertz). Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Essa ressonância está ligada ao Sol e às condições ecológicas gerais da biosfera e da atividade poluidora humana. Sabe-se que o aumento crescente do uso de telemóveis favorece a poluição magnética ao nível de todo o sistema-Terra, além de interferir no equilíbrio magnético dos neurónios.

Verificou-se, também, que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83 hertz. Empiricamente fêz-se a constatação de que não podemos ser saudáveis fora desta frequência biológica natural. Antes, ela é extremamente propícia para o estudo e para o equilíbrio emocional humano. Quando o nosso sistema biológico funciona nos parâmetros desta frequência, ele está em sintonia com a frequência magnética da Terra.


Experiências que Schumann fez com estudantes, fechando-os em "bunkers" isolados magneticamente, mostrou que ficavam perturbados. Introduzindo as ondas Schumann, voltavam, pouco tempo depois, ao estado normal. Detectou-se também que sempre que os astronautas, devido às viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas submetidos à ação de um "simulador Schumann" recuperavam o equilíbrio e a saúde.

Durante milhares de anos os batimentos do coração da Terra tiveram esta frequência de pulsações e a vida desenrolava-se em relativo equilíbrio ecológico. No entanto, a partir dos anos 80 e, de forma mais acentuada, a partir dos anos 90 a frequência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz por segundo.
O coração da Terra disparou. Coincidentemente fizeram-se sentir desequilíbrios ecológicos: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, recrudescimento do "El Niño", maior degêlo nas calotas polares, aumento de tensões e conflitos no mundo e de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido à aceleração geral, o dia de 24 horas, é, na verdade, de apenas 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo se está a passar demasiado depressa não é ilusória, mas teria base real neste transtorno da ressonância Schumann.

Gaia, esse superorganismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar à procura de formas para voltar ao seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Apenas enfatizo a tese recorrente entre grandes cosmólogos e biólogos de que a Terra é, efetivamente, um superorganismo vivo, de que Terra e humanidade formam uma única entidade, como os astronautas testemunham continuamente lá das suas naves espaciais. Nós, seres humanos, somos Terra que num momento da sua evolução começou a sentir, a pensar, a amar e a venerar, e hoje, a alarmar-se. Porque somos isso, possuimos idêntica natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann.

Se quisermos que a Terra reencontre o seu equilíbrio devemos começar por nós mesmos: fazer tudo com menos stress, com mais serenidade, com mais amor que é uma energia essencialmente harmonizadora. Para isso importa sermos um pouco anti-cultura dominante que nos obriga a ser cada vez mais competitivos e efetivos, gerando desequilíbrio generalizado nas relações humanas.

Precisamos respirar juntos com a Terra para conspirar com ela em benefício de mais entendimento entre os seres humanos, de maior cuidado para com a Casa Comum e de uma paz mais duradoura para toda a humanidade.


Artigo criticado em Defenestrando ideias

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