Vem

Vem, vem, sejas tu quem fores
Não importa se és um infiel, um idólatra
Ou um adorador do fogo,
Vem, a nossa irmandade não é um lugar de desespero,
Vem, mesmo tendo violado o teu juramento cem vezes,
Mesmo assim, vem.

~Rumi


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Teu Verdadeiro Centro



Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência do seu próprio eu. A primeira coisa da qual ela se torna consciente é do outro. Isso é natural, porque os olhos abrem-se para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora.

O nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. A criança primeiro torna-se consciente da mãe. Então, pouco a pouco, torna-se consciente do seu próprio corpo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando a sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.
Primeiro, ela torna-se consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela torna-se consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Agora, um ego está nascendo.

Através da apreciação, do amor, do cuidado, a criança sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.

O ego é um fenómeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança viver totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não a vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao teu redor, não tu, mas tudo aquilo que te rodeia. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente do seu próprio centro. A sociedade dá-lhe um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade.

O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que estás continuamente a pedir atenção. É a partir dos outros que obténs a ideia de quem és. Eles modelam o teu centro. Esse centro é falso, porque tu conténs o teu verdadeiro centro. Ninguém o modela, tu já vens com ele. Nasces com ele.
Assim, tens dois centros. Um centro que vem contigo, dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro, que te é dado pela sociedade - o ego. Ele é algo falso - e é um grande truque. Através do ego a sociedade está a controlar-te. Tens que te comportar de uma certa maneira, porque só assim a sociedade te aprecia.

Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Mas se fores corajoso e não voltares para trás, se não voltares a cair no ego, mas fores sempre em frente, existe um centro oculto em ti, um centro que tens carregado por muitas vidas. Esta é a tua alma, o Eu. Uma vez que te aproximes dele, tudo muda, tudo volta a assentar novamente. Mas, agora, esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos; nasce uma nova ordem. Mas esta não é a ordem da sociedade - é a própria ordem da existência. É o que Buda chama Dhamma, Lao Tze chama Tao, Heráclito chama Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo. Tens um centro que floresce dentro de ti. Por isso os hindus chamam-lhe lótus - é um florescer. Chamam-lhe "o lótus das mil pétalas". Mil significa infinitas pétalas. O centro floresce continuamente, nunca pára, nunca morre. E este centro verdadeiro é a alma, o Eu, a verdade, ou como se quiser chamar. Ele é inominável, assim, todos os nomes são bons.
fonte: www.luzdafloresta.com.br

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